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terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

"Diga, companheiros": Evandro Cavalcanti, presente

Do BLOG DE MAGNO MARTINS
charlesnasci@yahoo.com.br

Por José Nivaldo Junior

Há 30 anos, 21 de fevereiro de 1987, não era terça-feira. Era sábado. Dia de feira, dia de festa, dia de trabalho em Surubim. Evandro Cavalcanti, 39 anos, vereador pelo PMDB, o partido que enfrentara a ditadura na luta parlamentar, militante político e advogado do sindicato rural, caminhava pela rua. Não estava vagando. Dirigia-se ao sindicato, onde ocorreria uma assembleia. Levava pela mão a filha pré-adolescente, Andréa. Ao lado, Leta, a mulher e companheira da vida. Abordado por um bando de facínoras, a soldo de reacionários inimigos dos camponeses e da luta popular, disse suas últimas palavras permeadas de fraternidade: "Diga, companheiros?". Precisa falar mais para expressar a figura humana extraordinária que era Evandro Cavalcanti?

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Nessa madrugada distante geograficamente é tão perto pela comunicação, escrevo com lágrimas escorrendo dos olhos. 
A lembrança da tragédia - Evandro morto no calçamento, Andréa ferida a bala, Leta destroçada, é por demais dolorosa. Neste momento de recordações e dor, tiro o chapéu para Leta, Andréa, Marcelinha (minha querida afilhada), Luiz e Fidel, esposa e filhos de Evandro. Seguiram a vida, lutando a batalha de cada dia, buscando cada qual a seu modo ser feliz. Guerreiros da humanidade, todos eles, porque a felicidade é a vitória definitiva contra a maldade.

Evandro era um amante da vida. Compartilhamos grandes e belos momentos. De lutas e risos. Tornou-se, pelo sacrifício, um símbolo que inspira as lutas populares do Brasil inteiro. Muitas vezes ele repetiu uma frase que, sinceramente, não lembro se era dele, minha, de Leonardo Cavalcanti ou de quem quer que seja. Sua voz inconfundível está nítida na minha memória: "Zé, o povo não tem direitos, tem conquistas". Registrado, companheiro. O seu sorriso está presente.

*Publicitário e membro da Academia Pernambucana de Letras