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terça-feira, 20 de agosto de 2019

Margaridas coloriram Brasília: "As pessoas sabem da importância da nossa luta", diz casinhense idealizadora da marcha

A casinhense Margarida Pereira com o
filho Fernando Duda, em registro no
evento feito pelo Intercept Brasil
(Foto: Divulgação/Reprodução)
Do PORTAL ADUFRJ - Silvana Sá
charlesnasci@yahoo.com.br

Brasília ficou pintada de lilás e vermelho nos dias 13 e 14 de agosto. A Marcha das Margaridas, maior evento de mulheres da América Latina, levou mais de cem mil trabalhadoras do campo, da floresta, das águas e da cidade à capital federal na semana passada. Desde 2000, o Planalto Central é o destino da Marcha. O nome homenageia a líder camponesa Margarida Alves, assassinada na Paraíba, em agosto de 1983. A ativista lutava pela igualdade de direitos entre trabalhadores do campo e da cidade. Foi a primeira mulher a presidir um sindicato rural no Brasil. Morreu com um tiro no rosto, em casa, na frente do filho pequeno. Virou símbolo dos trabalhadores rurais e inspiração para a Marcha das Margaridas.

Na pauta do movimento, a luta por justiça social, a defesa da reforma agrária, o respeito às populações indígenas e quilombolas, a crítica à reforma da Previdência. Este ano, ganhou destaque a luta contra a violência de gênero. No dia 13, as participantes foram homenageadas em sessão solene na Câmara dos Deputados. No dia 14, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT) esteve na manifestação e leu uma carta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apoiando o movimento.
Foto: Divulgação/Reprodução
Outra Margarida, idealizadora da Marcha, conta como surgiu a iniciativa. "Um dia a gente estava reunida no sindicato (de trabalhadores rurais, em Pernambuco) discutindo ações para fazer nos estados. Daí eu disse: ‘Por que a gente não pensa uma atividade em Brasília só de mulheres?’ As pessoas riram. Os homens achavam loucura. Mas conseguimos. No ano seguinte, fizemos a primeira marcha", relembra orgulhosa dona Margarida Pereira da Silva, moradora e camponesa de Casinhas, município do agreste pernambucano.
Foto: Divulgação/Reprodução
"Só faltei a uma marcha até hoje, mas foi por problemas de saúde", diz. Dona Margarida é mãe do professor da Coppe e diretor da Adufrj, Fernando Duda. Ela destaca a importância da atividade para as mulheres camponesas. "A marcha do ano seguinte começa a acontecer assim que acaba a anterior. Ela é discutida nas comunidades, nas bases. Hoje, as pessoas sabem quando vão sair as caravanas. Sabem o que a gente defende, sabem nossa luta". Dona Margarida reconhece que este ano houve mais dificuldades na organização do evento. "Foi muito difícil conseguir financiamento. Vendemos bolo, canjica, bordado. Mas muitas portas foram fechadas. Ainda assim, não arredamos o pé".