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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Em entrevista exclusiva, Ariano Suassuna diz que fez 'pacto com Deus' para terminar livro

Leo Caldas/Folhapress
Da Folha de S.Paulo
charlesnasci@yahoo.com.br

"Mexeu com o físico, mas com a cabeça não buliu não. Se você quiser, recito todinho o episódio de Inês de Castro, de 'Os Lusíadas'", brincou Ariano Suassuna, 86, na última terça-feira. Fazia alusão ao copioso trecho do clássico português, mas deu várias outras provas de que falava a verdade. Na tarde/noite daquele dia, quase quatro meses depois de sofrer um infarto (agora ele revela terem sido dois) e tratar um aneurisma cerebral, o escritor e dramaturgo recebeu a Folha em sua casa no Recife para uma entrevista exclusiva, a primeira depois de duas internações e do repouso forçado.

Dizendo-se cansado, optou por falar deitado em sua cama. Acabara de posar para fotos e na véspera retomara suas aulas-espetáculos com um tributo ao compositor Capiba, uma palestra intercalada por shows de música e dança que durou 1h45min. Mais magro que o habitual e aparentemente mais fraco (recusou o lanche que lhe chegou, uma fatia de bolo e água de coco), mantém, porém, a cabeça a mil. Em uma hora de entrevista, não perdeu em nenhum momento a lucidez ou a argúcia.

Recitou de memória versos inéditos de sua autoria que estarão no romance em que trabalha há 33 anos e cujo primeiro volume, após seguidos adiamentos, ele diz ter enfim concluído, sob pressão dos problemas de saúde.Para pôr fim ao primeiro livro daquela que considera a obra de sua vida -e que deverá ter sete volumes, mesclando romance, poesia, teatro e gravura-, Ariano afirma ter tido uma ajuda divina. "Fiz um pacto com Deus: se ele achasse que o romance tinha alguma coisa de sacrílego ou de desrespeitoso, que interrompesse pela morte."

A obra concluída -ainda sem previsão de lançamento- será um romance epistolar, chamado "O Jumento Sedutor", homenagem a "O Asno de Ouro", do escritor Lucius Apuleio, do século 2. A série completa levará o nome de "A Ilumiara". O autor de "Romance da Pedra do Reino" e "O Auto da Compadecida" falou ainda sobre morte e a aversão que sentiu da UTI e de política.

Clique aqui e leia a entrevista na íntegra.