Pages

domingo, 1 de outubro de 2017

CENTENÁRIO: Admirado pelo povo, Chacrinha se envolveu em controvérsias ao longo da vida

Acusações de jabá, nunca comprovadas de forma incontestável, e censura federal foram calos na carreira do apresentador
Chacrinha em ação no Cassino do Chacrinha, nos anos 80 (Foto: Nelson Di Rago/Reproducao/Arquivo TV Globo)
Do DIARIO DE PERNAMBUCO (Isabelle Barros)
charlesnasci@yahoo.com.br

Embora a carreira de Chacrinha tivesse sido marcada pelo seu poder de comunicação com uma grande fatia da audiência, consolidando a opção da TV aberta brasileira em atender às classes populares, sua trajetória não esteve livre de polêmicas. A criatividade o deixou em apuros em várias ocasiões com a censura, com a Igreja Católica e dentro da própria Globo, onde trabalhou de 1967 a 1972 e 1982 a 1988 e comandou três programas: Buzina do Chacrinha, Discoteca do Chacrinha e Cassino do Chacrinha.

Uma acusação recorrente ao longo da carreira foi a de cobrar jabá. No rádio, dizia-se que ele recebia dinheiro das gravadoras para tocar determinadas músicas; na TV, o argumento era de que só tocava em seus programas quem topava circular, sem receber cachê, nos shows pelo Brasil. A acusação o deixava irado, como em uma discussão com Boni, ex-superintendente de produção e programação da Globo, registrada no livro Chacrinha: A biografia, de Denilson Machado. "Você está me chamando de ladrão! Eu nunca roubei nada de ninguém! Não sou ladrão! Não sou ladrão!".

Você também viu?
>> Samba enredo da Grande Rio que homenageará Chacrinha no Carnaval 2018 faz menção a Surubim
>> Há exatos 100 anos, nascia o surubinense Chacrinha

Em entrevista de 2001 à revista Playboy, o vocalista do grupo Capital Inicial, Dinho Ouro Preto, detalhou esse suposto esquema. "Você era obrigado a participar de playbacks no subúrbio do Rio em troca de aparecer no Chacrinha. Em lugares fim de mundo. E três ou quatro lugares por noite. Entrava num táxi e ia aos equivalentes hoje dos bailes de subúrbio. Era uma coisa muito amadora. (…) Aí, num rasgo de coragem, falamos: ‘Então tá. Nunca mais aparecemos na Globo’. Ligamos para a Folha de S.Paulo e contamos como funcionava o jabá. Demos nomes aos bois. Saiu na primeira página da Ilustrada".

Já João Kleber contemporizou sobre o assunto. "Eu nunca ouvi falar de jabá, ao menos na minha frente. São coisas que às vezes são faladas, mas é preciso provar. E olha que eu participava de reuniões na casa dele, na sala de produção". Outro momento célebre, no qual desagradou a Igreja Católica, foi a participação da mãe de santo Cacilda de Assis, que incorporava a entidade da Umbanda Seu Sete da Lira, como atração da Buzina do Chacrinha, em 1971. "Considero a pesquisa que fiz para o livro tendo início a partir dos meus 4 anos de idade, que é quando recordo da primeira imagem de um programa dele, justamente esta noite", diz Denilson.

A censura foi outra fonte de dor de cabeça. "Os censores caíam muito em cima da exposição do corpo das dançarinas e impediam Chacrinha de levar travestis, como a Rogéria, ao seu programa, ou mesmo atrações tidas como popularescas demais", aponta Raphael Bispo. A tensão com o controle governamental chegou ao auge em 1° de julho de 1980, quando ainda trabalhava na TV Bandeirantes e foi levado de camburão à sede da Polícia Federal, fichado e interrogado por ter dito palavrões a uma censora. Só foi liberado após fiança de dez mil cruzeiros, equivalente a R$ 2,6 mil hoje.