Da GAZETA DO POVO - Guilherme Macalossi
charlesnasci@yahoo.com.br
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As investigações pretensamente modernas sobre a existência dos chamados "pobres de direita" apenas reciclam o velho conceito da "guerra de classes", que, na visão de seus proponentes, precisa ser reapresentado para cativar a massa que teria sido cooptada pelo discurso liberal-conservador, como se este não tivesse o mérito de identificar aspirações e anseios genuínos. "Pobre gosta de luxo, quem gosta de pobreza é intelectual", disse certa vez o carnavalesco Joãozinho Trinta. O povo da periferia deseja reconhecimento e oportunidade para provar seu valor e sua capacidade dentro do mercado capitalista. Não a revolução social e a apropriação das conquistas alheias. É isso que tira certos pensadores progressistas do eixo.
Curiosamente, um dos estudos mais interessantes e reveladores sobre o pensamento médio das periferias veio da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT. A entidade publicou uma pesquisa feita entre 2016 e 2017, intitulada Percepções e Valores Políticos nas Periferias de São Paulo. Os resultados vão na contramão de certos consensos ideológicos instituídos como norma analítica na academia, principalmente no âmbito econômico e comportamental.
Segundo o levantamento, não há conflito ou ressentimento dos trabalhadores em relação aos seus patrões. Reconhecem condições e características distintas, mas não concordam com a ideia de que há exploração. A maior parte dos entrevistados pela Fundação Perseu Abramo entende que não há conflito entre ricos e pobres, ou, para ficar com o linguajar marxista, entre capital e trabalho.
Para o pobre da periferia de São Paulo, o conflito se dá entre o cidadão e o Estado, que lhe cobra tributos escorchantes, impõe amarras burocráticas, asfixia o empreendedorismo e gerencia mal o crescimento econômico. O povo da periferia deseja reconhecimento e oportunidade para provar seu valor e sua capacidade dentro do mercado capitalista. Não a revolução social e a apropriação das conquistas alheias. É isso que tira certos pensadores progressistas do eixo. Quando convidado a opinar sobre suas próprias percepções da vida e do mundo, o cidadão comum costuma ir na contramão do que é dito sobre ele.
Certas elites progressistas não aceitam os pobres como são, apenas os pobres como idealização política. Como não se conformam em admitir o erro essencial de suas teses, preferem se afundar na própria convicção desconectada da realidade, redobrando a dose de desonestidade intelectual.