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sábado, 17 de janeiro de 2015

'Orkut para mortos': rede social brasileira permite homenagear pessoas falecidas

Foto: Reprodução
Do Canal Tech
charlesnasci@yahoo.com.br

Embora o Google tenha descontinuado o Orkut no ano passado, a primeira rede social de sucesso no Brasil continua em operação, pelo menos em versões alternativas. Uma delas é o Memorial Online, criação do empresário brasiliense Thiago Vinícius Corrêa, de 24 anos, e que tem por objetivo ajudar as pessoas a lidar com a perda de entes queridos destacando suas experiências mais marcantes em vida.

Fundado em 2 de novembro (Dia de Finados), o site, que atualmente é formado por uma equipe de dez pessoas, surgiu após 12 meses de trabalho com empresas funerárias, mas ganhou força depois da divulgação de momentos pessoais. Pela plataforma, o familiar, amigo ou pessoa próxima ao falecido pode manter uma espécie de mural virtual com fotos, vídeos, informações e depoimentos daqueles que conviveram com o usuário homenageado, assim como acontecia no Orkut.

"Gostaria de tornar a memória acessível de qualquer lugar, criar um banco de memórias onde todos pudessem compartilhar um pouquinho da lembrança que guardam e manter a história do ente querido viva, protegida do desgaste do tempo", explica Corrêa em entrevista ao G1. "Com a lápide digital que é adquirida junto ao serviço, quem visita o túmulo tem mais que uma lápide fria para contemplar. Pode ter acesso às memórias, fotos, vídeos e às homenagens deixadas por outras pessoas".

O custo para manter uma página na rede social varia entre R$ 90 e R$ 290, dependendo das opções escolhidas pelo cliente. Há ainda uma taxa anual de R$ 2,99 para a retirada de um banner de patrocínio e de R$ 20 para espalhar um aviso de missa de sétimo dia ou aniversário de morte.O projeto já ajudou as famílias de pelo menos 300 pessoas, número de inscrições recebidas pelo site com menos de um mês de lançamento. Uma delas é a biomédica Eloiza Helena Ferreira da Silva, que criou um perfil para o irmão falecido Jorge de Araújo Ferreira. Ela conta que a ideia foi bem recebida pelos parentes e que pretende fazer o mesmo no futuro caso perca outra pessoa próxima, além de manifestar que gostaria de ser homenageada da mesma forma.

Imagem: Reprodução
"Posso escrever as emoções que vivemos juntos, demonstrar todo amor que tenho por ele e o quão importante ele é em minha vida. A saudade fica mais doce quando escrevo sobre ele. A ausência permanece, porém mais suave, quando falo dele e relembro nossos momentos juntos. Já fazia essas homenagens em minha rede social. Agora, com uma rede específica, fica mais fácil de os amigos compartilharem suas emoções e, quando forem visitar o túmulo dele, conseguem localizar pelo aplicativo com auxilio do GPS do celular", diz Eloiza.

De acordo com o fundador do serviço, ainda não existe um padrão específico de usuário que se inscreve na plataforma. Corrêa alega que o membro mais novo cadastrado na rede social morreu aos 2 anos, e o mais velho aos 83. Além disso, o empresário afirma que o tempo médio para a criação de um perfil é de 30 minutos, mas que os clientes têm levado entre cinco dias e três semanas para reunir todo o conteúdo e montar a "lápide" digital. Cerca de cem pedidos de informações são recebidos pela equipe do site toda semana.

Para a psicóloga Cynthia Carvalho, a opção por criar um perfil na internet para alguém falecido vem da necessidade de "preencher um vazio". A profissional defende que o saudável é que as pessoas aprendam a lidar com esse sofrimento, inclusive buscando ajuda em terapias convencionais, mas também destaca a importância da web nos dias atuais para que as pessoas se comuniquem e se expressem a respeito do que vivem. "A necessidade em utilizar esse serviço é de quem busca, de alguma forma, suportar ou pensar que está aliviando um sofrimento. É complicado definir se isso faz bem ou mal", conclui.