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sexta-feira, 8 de junho de 2012

Coluna "Anotações da minha mãe"

Vida vivida - Parte Final 

Por Maria Borges de Lima/Especial para o Blog*

Eu era bem pequena, devia ter uns cinco anos de idade, quando certa noite estava dormindo, todos estavam dormindo, meus pais, eu e meus oito irmãozinhos. A gente dormia no chão, em uma esteira. O 'mocambo' era feito de barro e coberto com palhas de coqueiro. Foi quando, no meio da noite, ouvi um barulho, acordei, olhei pra cima e vi uma cobra com a calda pendurada se mexendo. Perdi a voz. Fiquei com muito medo e fechei os olhos. Quando abri, gritei: "Mãe, uma cobra!" Foi quando pai se levantou, pegou a espingarda e atirou na cobra, que caiu quase em cima de mim. Eu me desesperei, 'mãe' me agarrou, me deu água pra beber e me levou para a ‘cama de varas’. O pior é que quando eu olhava para as varas tinha a impressão de via cobras e voltava a gritar. Jamais me esquecerei.

Na Paraíba, no sítio onde cheguei a morar, havia um pé de jaca enorme. Era de jaca mole. Quando eu saía fora de casa, as jacas caíam na minha cabeça e se abriam. Eu sentava e comia.

Vou falar um pouco de 'pai' e 'mãe': minha mãe foi uma guerreira; muitas vezes vi ela com as mãos na cabeça sem saber o que fazer com 10 'bocas' para alimentar. Ela saía e ia perguntar a dona Severina de Seu Joaquim se ela não estaria precisando dos seus serviços. Quando voltava pra casa, sempre trazia qualquer coisa: jerimum, feijão, mandioca, qualquer coisa.

Quando completei 18 anos fui trabalhar no Colégio Pio XII, em Surubim. Às vezes, mesmo com o rio com 'cheia', eu passava todas às cinco horas da manhã. Trabalhava, estudava e voltava às onze e meia da noite. Atravessei muitas vezes o rio com os pés descalços, tarde da noite, mas fazia aquilo pro meu bem e para ajudar minha mãe. Minha mãe criava porco. Certo dia, um dia muito chuvoso, eu, que dormia no chão, numa esteira, estava tremendo de tanto frio. Ela ficou com pena de mim e me disse: "Vou vender uma porquinha e comprar uma cama pra você". Ela comprou e eu fiquei muito feliz. Continuei trabalhando e ajudando ela. Era pouco, mas ajudava.

Já 'pai' era um aventureiro. Colhia frutas, era bicheiro, trabalhava na feira, e não costumava se apegar muitos aos problemas. Era um bom pai. Às vezes me dava umas 'pisas', mas eu nem sentia, eram suaves. Mas quando era 'mãe' aí eu sentia a 'chibata no lombo'. Minha família, como muitas outras do meu lugar, passou por muitas dificuldades, mas vencemos e estamos aqui.

Hoje tudo mudou. A antiga 'bueira' se transformou num enorme pontilhão, a estrada principal, que era de barro, em calçamento e pista. Antes, nunca vi turista rodeando meu lugar, mas hoje, quando saio de casa, vez ou outra me deparo com alguém admirando, fotografando e até filmando a paisagem daqui. Nunca vi um governo tão forte, competente e sabendo dar tanto valor a nossa gente como o do senhor Eduardo Campos. Não tem comparação.

Sempre que vou a Surubim, Casinhas ou Umbuzeiro, fico admirando a paisagem do meu lugar. Casinhas é uma cidade pequena, mas muito grande e rica em sabedoria, acolhimento e solidariedade. Terra de um prefeito competente, o senhor João Camêlo, de vereadores afamados, de gente com muita fé em Deus.


"Em uma cidade modelo/
Casinhas pretende se tornar/
Com os homens capacitados que tem/
Não demora a chegar"

Homenagem a Porto de Galinhas-PE:
"Quando eu chego na praia/
Não me canso de olhar/
Vejo as ondas dançando/
As sereias cantando/
Os peixinhos namorando/
E o céu beijando o mar" (Maria Borges)


*Maria Borges de Lima é mãe do blogueiro. Autodidata, curte pintar, escrever crônicas, pensamentos e poesias e assina semanalmente esta coluna aqui no Blog

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