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domingo, 11 de setembro de 2011

O quintal produtivo da Margarida

Depois de vários anos de atuação como dirigente sindical, Ilda retorna à comunidade do Diogo, no município de Casinhas, para cuidar da terra, informa o Informativo do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural da Mulher do Nordeste em sua edição de julho deste ano. Na foto acima, vemos Ilda, que é ex-secretária executiva do MMTR-NE numa recente explanação que ela fez por ocasião da Conferência Municipal da Mulher em Casinhas (Foto: Arquivo pessoal/Divulgação)

DO MMTR-PE (Reportagem especial para o "Trocando Experiências", Boletim de Divulgação de Experiências Agroecológicas de PE)

charlesnasci@yahoo.com.br

A trabalhadora rural Margarida Pereira da Silva, conhecida como "Ilda", tem 62 anos e uma longa história com a terra. Pernambucana, mãe de três filhos e uma filha. Nasceu na comunidade do Diogo, na época município de Surubim. ela começou a participar dos movimentos sociais no início dos anos 80, como delegada sindical da sua comunidade, que hoje é do município de Casinhas.

A partir desse envolvimento com os movimentos, Ilda se tornou uma liderança sindical. Fez parte da direção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Surubim. Foi da diretoria da Federação de Agricultores no Estado de Pernambuco (Fetape) e esteve na Coordenação Nacional da Mulher Trabalhadora Rural da Confederação Nacional de Agricultores (Contag), entre 1996 e 1998.

Em 2001, Ilda foi escolhida para representar o Movimento Trabalhadora Rural do Nordeste (MMTR-NE), como secretária executiva. Foi reeleita para a direção da instituição pro várias vezes, mas em 2007 decidiu que seria o último mandato. Apesar de estar na luta pela terra e por condições de vida digna para as mulheres rurais, sentia necessidade de voltar a cultivar o seu roçado. "Foram três anos de muita reflexão e indefinição. Onde eu iria morar e o que iria fazer depois do meu mandato? Com o resultado das eleições de 2010 foi que decidi voltar a morar no Diogo", relembra Ilda. 

A volta de Ilda para sua comunidade foi uma surpresa até mesmo para a família. "Quando eu fale i em voltar a trabalhar na terra e fazer um quintal produtivo, eu sabia do desafio. As pessoas por aqui o terreno, jogando todos os tipos de lixo, além das reformas que foram feitas nas casas dos moradores da Igreja e de uma escola. Algumas pessoas duvidavam de mim, quando eu falava que iria cuidar daquele terreno", explica ela.

Cuidando da terra e da vida – Na sua nova morada Ilda já conseguiu situar vários tipos de plantas como mamoeiro, coqueiro, laranjeira, limoeiro, abacateiro, pinheira, bananeira, milho e feijão. Também estão crescendo diversos tipos de hortaliças, como couve, pepino e chuchu. O quintal já contava com alguns pés de acerola, cajá, goiaba, manga, pitanga, carambola, amora, limão, coco e azeitona. Agora ela está cuidando deles com muito carinho, para colher os frutos mais saudáveis. 

Ilda diz que a terra do seu quintal ainda precisa de muitos cuidados. "O solo está muito frágil e alguns insetos comem as hortaliças, a exemplo das formigas. A minha opção é não colocar agrotóxicos, pois tenho consciência de que esses produtos impedem uma alimentação saudável". A experiência de Ilda é recente e está num terreno pequeno, de menos de um hectare. Ela fica em uma ladeira próxima a um rio que está precisando ser revitalizado, já que os esgotos das casas, da escola e da Igreja estão a céu aberto e são depositados no rio. 
Uma parte significativa e importante das origens, vida e trajetória desta "dioguense nata" também pode ser conferida numa autobiografia que ela lançou há alguns anos atrás, intitulada "História e lutas de uma mulher trabalhadora rural" (Foto: Arquivo pessoal/Divulgação)

O resultado do seu trabalho já é sentido na sua mesa. O milho, o feijão, o pepino, a couve e a bertalha já saem do seu quintal para a cozinha, livre de agrotóxicos. Outras dificuldades encontradas por Ilda durante o cultivo de sua horta foi com a água. "Plantei alguns pés de frutas e flores, que eu molhava com a água da Compesa. Mas ela tem muito cloro e é salobra. Os pés acabaram morrendo, principalmente os de hortaliça", explica. 

Para resolver o problema ela aproveitou a cisterna que estava quebrada. Providenciou o conserto e comprou mais uma caixa d’água. "Eu fico doente quando vejo a água da chuva indo embora!", finaliza. A alegria de Ilda pode ser lida na letra da música que ela fez especialmente para a comunidade do Diogo:

"Eu voltei, voltei, voltei! A minha alegria não dá para expressar / Voltei para o Diogo / É aqui que vou morar / Por muitas cidades onde morei / Fiz muita amizade / E a saudade lá deixei / A alegria que sinto em voltar / É de trabalhar na terra e dela cuidar".


(Composição de Margarida Pereira da Silva, em 2011)