Foto: Google Imagens/Reprodução |
Do G1 (Dodô Azevedo)
charlesnasci@yahoo.com.br
Ariano Suassuna vivia reclamando da internet. Não que ele não gostasse dela. "Ela é que não gosta de mim", dizia ele, contando a história da primeira vez em que procurou por seu nome no Google e o site automaticamente sugeriu: "Você quis dizer Ariano Assassino?"
Assassino não, Ariano Suassuna era matador.
Suas famosas aulas-espetáculos - onde proferia pérolas como "A gente tem uma tendência a acreditar que não morre. O que é bom". Ou: "Medo da morte? Eu não gosto de contar valentia antecipada, acho que a gente só pode dizer que não tem medo de alguma coisa depois de enfrentá-la." - eram matadoras.
Tinha medo de voar - como acontece àqueles que dominam a arte de voar sem sair do chão. Tinha mais medo de gente viva do que de fantasma - como convém aos imortais que no fundo desconfiam que um dia vão virar fantasma. Implicava docemente com a Lady Gaga, o Cazuza e a Banda Calypso. - como convém àqueles que enxergam doçura e conflito como os dois lados indissociáveis de uma mesma moeda.
Toda a obra de Ariano Suassuna é, no fim das contas, sobre doçura e conflito.
Ou sobre a secura da vida sertaneja e a sua cadência serena.
Porque a verdade simples e natural da vida é que tudo morre.
Naturalmente, simplesmente e docemente tudo está em conflito. - Ariano nos ensina.
Naturalmente e docemente tudo está em tensão.
É do conflito entre o oxigênio e o hidrogênio que nasce a água.
É a tensão entre os polos da Terra que mantém seu eixo e as condições climáticas para que a vida floresça.
É a tensão entre os prótons e elétrons que mantém os átomos coesos.
É a tensão entre espermatozoides e óvulos que geram novos bebês.
É a tensão do vento com o mar que gera ondas.
E a tensão do mar se chama maré.
E a tensão do vento com o mar se chama sal.
E a tensão do sal com a língua se chama tempero.
E a tensão da fome gera o prazer de saciá-la.
É a guerra entre o desejo e o prazer que alimenta o tempo.
É a guerra entre os minutos e segundos que alimenta o relógio.
É a guerra entre o relógio e o tempo que constrói a ficção.
Vai-se a vida do corpo de um mestre do relógio, do tempo e da ficção.
Sai do corpo a alma de um homem que nos ensinou a adorar a nossa cultura.
Sai do corpo a alma de um homem que nos ensinou a adorar a nós mesmos.
Vai ser vida maior que corpo. Vai ser vida do tamanho do tempo e da ficção.
Vai virar o fantasma que puxará nossos pés, nossos pés de alunos do curso de brasileiros, toda vez esquecermos suas lições. Suas aulas.
Porque a vida de Ariano Suassuna foi, ela própria, uma aula-espetáculo.
Ariano Suassuna vivia reclamando da internet. Não que ele não gostasse dela. "Ela é que não gosta de mim", dizia ele, contando a história da primeira vez em que procurou por seu nome no Google e o site automaticamente sugeriu: "Você quis dizer Ariano Assassino?"
Assassino não, Ariano Suassuna era matador.
Suas famosas aulas-espetáculos - onde proferia pérolas como "A gente tem uma tendência a acreditar que não morre. O que é bom". Ou: "Medo da morte? Eu não gosto de contar valentia antecipada, acho que a gente só pode dizer que não tem medo de alguma coisa depois de enfrentá-la." - eram matadoras.
Tinha medo de voar - como acontece àqueles que dominam a arte de voar sem sair do chão. Tinha mais medo de gente viva do que de fantasma - como convém aos imortais que no fundo desconfiam que um dia vão virar fantasma. Implicava docemente com a Lady Gaga, o Cazuza e a Banda Calypso. - como convém àqueles que enxergam doçura e conflito como os dois lados indissociáveis de uma mesma moeda.
Toda a obra de Ariano Suassuna é, no fim das contas, sobre doçura e conflito.
Ou sobre a secura da vida sertaneja e a sua cadência serena.
Porque a verdade simples e natural da vida é que tudo morre.
Naturalmente, simplesmente e docemente tudo está em conflito. - Ariano nos ensina.
Naturalmente e docemente tudo está em tensão.
É do conflito entre o oxigênio e o hidrogênio que nasce a água.
É a tensão entre os polos da Terra que mantém seu eixo e as condições climáticas para que a vida floresça.
É a tensão entre os prótons e elétrons que mantém os átomos coesos.
É a tensão entre espermatozoides e óvulos que geram novos bebês.
É a tensão do vento com o mar que gera ondas.
E a tensão do mar se chama maré.
E a tensão do vento com o mar se chama sal.
E a tensão do sal com a língua se chama tempero.
E a tensão da fome gera o prazer de saciá-la.
É a guerra entre o desejo e o prazer que alimenta o tempo.
É a guerra entre os minutos e segundos que alimenta o relógio.
É a guerra entre o relógio e o tempo que constrói a ficção.
Vai-se a vida do corpo de um mestre do relógio, do tempo e da ficção.
Sai do corpo a alma de um homem que nos ensinou a adorar a nossa cultura.
Sai do corpo a alma de um homem que nos ensinou a adorar a nós mesmos.
Vai ser vida maior que corpo. Vai ser vida do tamanho do tempo e da ficção.
Vai virar o fantasma que puxará nossos pés, nossos pés de alunos do curso de brasileiros, toda vez esquecermos suas lições. Suas aulas.
Porque a vida de Ariano Suassuna foi, ela própria, uma aula-espetáculo.