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sábado, 27 de junho de 2015

Morte do cantor Cristiano Araújo expõe abismo cultural

Foto: Google Imagens/Reprodução
Da Folha de S.Paulo (Tony Goes)
charlesnasci@yahoo.com.br

Nos últimos dois anos, a Globo cancelou a "Sessão da Tarde" apenas três vezes. A primeira delas foi em julho de 2013, quando as manifestações que sacudiam o Brasil atingiram o ponto de ebulição e mereceram cobertura ao vivo. A segunda foi em agosto do ano passado, quando o presidenciável Eduardo Campos morreu num acidente aéreo em Santos.E a terceira foi nesta quarta-feira (24), quando morreram o cantor sertanejo Cristiano Araújo e sua namorada Allana Moraes num acidente automobilístico no interior de Goiás.

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Cristiano quem? Para uma certa parcela do público, o rapaz era um ilustre desconhecido, mesmotendo emplacado uma fileira de sucessos nos últimos anos. As redes sociais se dividiram: boa parte dos internautas lamentava a morte trágica do cantor, enquanto outros se perguntavam de quem, exatamente, se tratava. Até apresentadores de TV tarimbados pareceram pegos de surpresa: Fátima Bernardes mencionou em seu programa a morte de Cristiano Ronaldo (o craque português do Real Madrid), logo virando "meme" na internet.

O fato é que este ídolo popular, ou quase anônimo em alguns círculos, mereceu tratamento de chefe de Estado pela mídia brasileira. As circunstâncias dramáticas do acidente (um capotamento no meio da madrugada, cujo motivo ainda está sendo investigado), a pouca idade das vítimas (ele tinha 29 anos, ela, 19), a carreira promissora abreviada de repente, tudo isso contribuiu para a comoção generalizada.

CONTO DE FADAS A trajetória de Cristiano tinha algo de conto de fadas: o garoto de origem humilde que faz um sucesso avassalador, conquistando fama e riqueza em pouquíssimo tempo. Claro que um final tão abrupto teria mesmo uma enorme repercussão. Sua morte também serviu para revelar que o Brasil está ainda mais dividido do que se pensava. Enquanto alguns se desesperaram com a notícia, outros escutaram o nome do intérprete de "Bará Berê" pela primeira vez. Não é só na política que existe um abismo a nos separar.

Nossa cultura também está se fragmentando: alguém pode se tornar um fenômeno para um enorme segmento, e passar quase despercebido para outro. O "Jornal Nacional" (Globo) desta quarta dedicou mais de dez minutos ao assunto. Agora, definitivamente, Cristiano Araújo tornou-se uma celebridade de quem todo mundo já ouviu falar.