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domingo, 24 de abril de 2016

VIDA: "Sou livro sem letra", diz poetisa de 86 anos ao entrar pela 1ª vez em escola

Ela aprendeu a ler e escrever escondido e via aulas do lado de fora da sala. Após morte de marido, idosa criou 5 filhos trabalhando em roça e carvoaria
Poetisa Regilda Pereira entrou pela primeira vez em uma escola aos 86 anos (Foto: Kamylla Lima/G1)
Do G1 PE
charlesnasci@yahoo.com.br

A poetisa Regilda Pereira Simões da Silva tem 86 anos de idade e nunca tinha entrado em uma escola. A contradição existe porque quando criança ela era proibida de estudar - aprendeu a ler e escrever escondido com a ajuda de dois irmãos. "Quem nunca estudou é um livro sem letra", diz a idosa, em referência aos próprios versos: Eu sou um livro sem letra / Eu sou um jardim sem flor / Sou remédio sem receita / Um colorido sem cor. Ela entrou em uma sala de aula pela primeira vez esta semana. Em uma escola de Caruaru, no Agreste de Pernambuco, a idosa leu poesias para alunos do ensino fundamental, foi aplaudida e ficou emocionada. "Estou vivendo na velhice o que não vivi na minha infância".

ASSISTA NA REPORTAGEM DA TV ASA BRANCA/REDE GLOBO:


     

Quando era criança ia para a escola onde os irmãos mais velhos estudavam e, do lado de fora do prédio, ouvia atenta às lições da professora. Antes do final da aula, corria do local para não ser vista. Regilda conta que nunca entrou em uma sala de aula porque "não era permitido" para as meninas. "Eu nunca tive o direito de estudar", relembra. Aos seis anos de idade, quando saía correndo para não ser vista pelos estudantes, ela diz que cantarolava as vogais.O interesse em aprender foi notado pelos imãos - que a ajudaram. Regilda contou que eles ensinavam para ela o que aprendiam na escola. "Mulher não tinha direito de estudar. 'Para que mulher aprender a ler?' Era o que diziam para mim e para todas", relembra.

Além da ajuda dos irmãos, contou também com a própria força de vontade. "Eu pegava um lápis, naquela época era uma pena, molhava na tinta e todo o papel que via, eu ia cobrir as letrinhas". Quando adolescente, ela diz que recebia cartas de uma amiga do Rio de Janeiro. "Ela mandava para mim e eu cobria por cima da letra dela, foi assim que fui aprendendo ao longo dos anos". A caligrafia também a ajudou a aprender a escrever. "Tinha um livro bem grande de caligrafia. Era uma coisa muito boa, com letras bem feitas. Eu ia tentando, tentando até conseguir".
Poetisa entrou em sala de aula pela primeira vez e declamou para estudantes (Foto: Kamylla Lima/G1)
Mãe de cinco filhos, o primeiro marido morreu e ela se viu sozinha para cuidar das crianças. Precisou trabalhar na roça e fazer carvão. Durante a entrevista, explicou que "era uma vida muito sacrificada" e pediu para falar pouco sobre o assunto. "Era tão difícil porque a pessoa fazia, botava fogo, às vezes incendiava. Quando ia ver, só tinham as cinzas. O trabalho ia todo embora". Ela só casou novamente quando os filhos já estavam adultos e diz que só aceitou o pedido do pretendente porque "sentia muita solidão".

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