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terça-feira, 22 de agosto de 2017

COMPORTAMENTO: Ariel, o bebê, decidirá se será menino ou menina

De São Lourenço e com apenas um mês, a criança deve ser criada como agênera pela família
Foto: Gabriel Melo/Esp.DP
Do DIARIO DE PERNAMBUCO
charlesnasci@yahoo.com.br

Ariel tem nome de anjo. Ou de princesa da Disney. Veste roupas em cores neutras. Pode ser amarelo, verde ou colorido em tons pastéis. Em certos dias, pode estar coberto com camiseta em azul; noutros, em rosa. Terá carros, martelos, cozinhas com florzinhas e bonecas. Se forem negras, um tanto melhor. “Porque só precisa brincar com o brinquedo que tiver vontade e ser o que ele quiser”, diz a mãe, Taynan dos Prazeres, 18 anos. Quando perguntam a Taynan e ao pai afetivo, Yudi dos Santos, se é menino ou menina, os dois - e a família em fase de aprendizado - respondem de pronto: “É apenas uma criança. Um bebê livre”. Nascido em 4 de julho de 2017 às 9h17 no Hospital da Mulher, Ariel Carneiro dos Santos, com naturalidade pernambucana de São Lourenço da Mata, será criado para escolher sua identidade de gênero quando bem entender e esta é a razão para dar-lhe um nome considerado “agênero”. Talvez Ariel se torne uma referência ao se falar de mudança cultural no Brasil.

“Se olham no meu braço e falam ‘é lindo”, eu continuo a conversa. Se falam ‘é linda’, não corrijo a pessoa e deixo quieto. Entendo que é uma questão cultural que nos leva ao binarismo”, explica Taynan, afirmando que ela mesma por vezes usa o pronome masculino por força do hábito. O nome foi sugerido pelo pai biológico da criança, André dos Santos. “Pesquisamos bastante e foi aí que ele deu a ideia. Achei o nome Ariel perfeito e eu não precisei dizer a André sobre minha preocupação em ser algo neutro porque ele é uma pessoa com cabeça aberta e que não tem tabus”, conta a mãe de Ariel. Explica-se: Ariel tem dois pais. André é o pai biológico. Yudi dos Santos, 25 anos, é o pai que o ajudou a nascer de parto normal, fazendo massagens e segurando a mão da companheira. O mesmo que o coloca no colo todos os dias para dormir.

A família se formou assim: Yudi começou a namorar Taynan em 2015. Os dois se separaram mas mantiveram a amizade. Taynan conheceu André, engravidou aos 17 anos e, já no início da gravidez, os dois se distanciaram enquanto casal. Durante a gravidez, Yudi e Taynan reataram e foi Yudi, à época com identidade feminina, quem a levou para fazer o teste de gravidez, os pré-natais e ajudou no parto humanizado - quando naquele dia ganhou a pulseira cinza do hospital e o direito de transitar livremente pela unidade de saúde como qualquer pai. “Foi uma alegria. A assistente social disse que não precisava nem explicar. Fomos com meu avô e foi uma agonia só porque as bolsas da maternidade estavam na casa de minha mãe. Eu estava muito nervoso”, conta Yudi, que acredita ser o primeiro homem trans-pai em Pernambuco a se declarar publicamente.

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