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quarta-feira, 2 de agosto de 2017

VOTAÇÃO: Deputados salvam Temer e enterram denúncia de corrupção

Planalto demonstra força e deputados impedem que Supremo Tribunal Federal analise acusação contra ele
Maioria da Câmara vota contra a investigação
de Temer, enquanto alguns opositores
protestam contra o Governo
(Foto: EVARISTO SA AFP)
Do EL PAÍS BRASIL
charlesnasci@yahoo.com.br

Os mesmos deputados que deram sinal verde para derrubar a presidenta Dilma Rousseff por maquiar as contas públicas, há 15 meses, salvaram nesta quarta-feira o seu sucessor, Michel Temer, de uma denúncia do Ministério Público por suposto recebimento de propina. A aliança de centro-direita que em abril de 2016 acabou com 13 anos de Governo do esquerdista PT conseguiu os apoios necessários para impedir que o Supremo Tribunal Federal analisasse o caso que poderia afastá-lo do cargo por até seis meses. Numa conturbada sessão da Câmara dos Deputados, Temer conseguiu depois da 20h reunir os 172 votos mínimos necessários para enterrar a ação judicial.

Temer e seus aliados utilizaram até o último minuto todas as armas para frear possíveis deserções e garantir a continuidade do Governo, ainda que a oposição jamais tenha chegado perto de conseguir os 342 votos necessários dos 513 possíveis. Poucos, como Temer, conhecem as artimanhas para captar apoios na política brasileira. Não é à toa que ele presidiu a Câmara em três ocasiões e atuou como um dos homens fortes do PMDB, especialista em selar pactos com Deus e depois com o Diabo, capaz de se aliar durante anos com o PT para depois, repentinamente, transformar-se em seu verdugo.

Os esforços de Temer se prolongaram até poucas horas antes da votação: incluíram distribuição de cargos a deputados até reuniões com o nutrido lobby parlamentar dos latifundiários. O Governo – numa manobra não tão incomum no Brasil – chegou a exonerar 10 ministros temporariamente de seus cargos para que pudessem participar da votação na Câmara. E sempre deixou pairando no ar a situação de dezenas de deputados, que vivem com a ameaça de acabar algum dia na prisão também por práticas corruptas. O que não impediu que representantes de partidos igualmente envolvidos nos escândalos se atacassem mutuamente com termos como "ladrões" e "bando de criminosos".

O presidente sofreu algumas deserções, como a de um dos principais aliados do Governo, o PSDB, que recomendou que seus congressistas – embora sem caráter obrigatório – votassem a favor da denúncia. Mas Temer conseguiu desviar de todos os obstáculos. Se a imagem dos políticos no Brasil está num nível baixíssimo, o debate não contribuiu para melhorá-la. Um dia inteiro de discussões bizantinas de procedimento, truques obstrucionistas e episódios grotescos. Nenhum deles como o protagonizado pelo deputado Wladimir Costa (SD-PR), que ficou famoso há alguns dias depois de ter tatuado o nome de Temer em um braço.

Costa brandia um boneco do ex-presidente Lula vestido de presidiário e quase chegou às vias de fato com alguns membros da oposição. Deputados da esquerda percorreram os corredores da Câmara em manifestação, entraram na sessão em meio a gritos e cartazes de "Fora Temer" e jogaram no chão uma maleta com notas falsas. Deputados próximos ao Governo devolveram as acusações, como Mauro Pereira, do PMDB, que se dirigiu ao juiz Sérgio Moro, que impulsionou as investigações anticorrupção, para pedir: "Coloque Lula na cadeia! Ele é o chefe de uma quadrilha de criminosos".

Os deputados haviam chegado proclamando que seria uma "sessão histórica", mas a atmosfera nada teve de solene. Enquanto o advogado de Temer defendia a inocência do presidente – chegou a qualificá-lo de "pessoa imaculada, à prova de qualquer crítica" –, os parlamentares se entretinham conversando em rodinhas ou gravando mensagens em seus celulares para transmitir pelas redes sociais.

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