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sábado, 26 de maio de 2018

CRISE: Em Pernambuco, ajuda popular fortalece movimento dos caminhoneiros

Familiares dos caminhoneiros também
ajudam o movimento (Chico Peixoto/LeiaJá)
Do LEIA JÁ
charlesnasci@yahoo.com.br

A carroceria da carreta vira mesa. A cabine, cama. Uma lona e pedaços de madeira improvisam o espaço da cozinha. Os utensílios domésticos foram todos fruto de doação. É assim que os caminhoneiros estacionados no quilômetro 82 da BR-101 em Prazeres, Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife, têm se organizado desde a segunda-feira (21), quando a paralisação foi iniciada. "Aqui é feito irmão, um ajuda o outro", comenta o caminhoneiro Sérgio Freire, que desde pequeno vive na estrada.

Chegando ao sexto dia de paralisação contra a alta nos preços dos combustíveis, os caminhoneiros têm contado com a ajuda popular. O LeiaJa.com permaneceu nesse trecho da BR-101 por cerca de uma hora na manhã deste sábado (26). Durante o período, a equipe presenciou a chegada de, pelo menos, cinco carros com doações. Água e alimentos perecíveis e não perecíveis estão entre os itens mais doados. Muitos motoristas que passam pelo local também fazem questão de buzinar e gritar palavras de ordem apoiando o movimento.


Gilson Vieira, 35 anos, pediu o carro da empresa emprestado ao patrão para poder levar mantimentos para os manifestantes. Junto com mais cinco pessoas, levou cerca de cem quentinhas com almoço. "Somos trabalhadores feito eles e estamos unidos para acabar com essa corrupção no país. Fiz questão de arrecadar comida e estou aqui hoje entregando. Amanhã, venho de novo", revelou.
Foto: Chico Peixoto/Leia Já
Os alimentos que chegam são guardados em um caminhão e em seguida cuidadosamente preparados pelas esposas dos caminhoneiros. O grupo é formado por cinco mulheres e comandado pela alagoense Cristiana Tavares, 42 anos. "Aqui a gente aceita tudo, menos bebida alcoolica", alerta. Arroz, feijão, carne e macarrão estavam no cardápio do almoço deste sábado. "A gente acorda por volta das 5 horas da manhã para preparar o café e, em seguida, partimos para preparar o almoço", conta.

No café da manhã, a cafeteira, que também foi doada, é levada ao fogo cerca de dez vezes. "Não pode faltar café", revela Cristina, que sempre acompanha o marido na estrada. A ajuda aos cerca de duzentos caminhoneiros que participam da manifestação no trecho do quilômetro 82 da BR-101 também chega de outras formas. "Muitas empresas que ficam aqui perto estão cedendo o espaço para gente tomar banho, escovar os dentes e ir ao banheiro", conta Edson Sales, caminhoneiro há 15 anos. "A população inteira se mobilizou. A sociedade, enfim, está com a gente", afirmou.

Há dez anos dirigindo pelas estradas do país, o carioca Simon Groelli, 35 anos, afirmou que não há intenção de acabar com a paralisação. "Só vamos parar quando o Governo Federal realmente negociar com a categoria. O combustível é caro, os impostos são absurdos, o pedágio também. Até os pneus estão caríssimos. Não dá para a gente trabalhar desse jeito, o valor do frete não compensa", desabafou. "A gente não está só reivindicando o valor do combustível, mas também o valor dos impostos. A carga tributária é absurda", completou o caminhoneiro Alberto Ferreira.

Faixas em muitos caminhões estacionados no local pedem intervenção militar. Ainda segundo Simon Groelli, o acordo anunciado pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, foi feito apenas com o sindicato. "Eles não nos representam e nem estão aqui no movimento, então nenhum acordo foi feito com a gente", contou. A maioria dos participantes da paralisação em Jaboatão dos Guararapes é formada por caminhoneiros autônomos.