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domingo, 16 de agosto de 2020

O triste abandono da casa de Capiba

Processo de tombamento da casa do maior compositor de frevo do País se arrasta há quase três anos. Enquanto não se resolve, imóvel sofre com descaso e falta de manutenção
Foto: Yacy Ribeiro/Divulgação
Do JORNAL DO COMMERCIO - Ciara Carvalho
charlesnasci@yahoo.com.br

Um processo que já dura quase três anos. E, enquanto se arrasta, o abandono toma conta. Em outubro de 2017, a Secretaria de Cultura de Pernambuco acatou o pedido de tombamento da casa onde o compositor Lourenço da Fonseca Barbosa, mais conhecido como Capiba, viveu por 40 anos. Houve a desapropriação, mas quem passa pela Rua Barão de Itamaracá, no bairro do Espinheiro, Zona Norte do Recife, se impressiona com a situação do imóvel. À noite, o local vira ponto para usuários de drogas, parte do telhado está destruído, paredes foram tomadas pelo cupim. Na entrada da casa, lixo espalhado e um tapume de madeira precisou ser reforçado após mais um arrombamento.

A residência foi construída em 1948 pelo compositor. Havia sido colocada à venda pela família, quando o Governo do Estado decidiu desapropriá-la e iniciou o processo de tombamento. Na época, a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) emitiu um parecer definindo a edificação como uma casa simples e bem construída. Três meses após o início do processo, a casa foi arrombada, em janeiro de 2018. Outras invasões se repetiram. A última ocorreu no dia 28 do mês passado. Há informações de que os ladrões já levaram pia, vaso sanitário, tudo o que conseguiram arrancar.
Foto: Yacy Ribeiro/Divulgação
Para a vizinhança, o descaso com a preservação da história do compositor tem trazido uma preocupação a mais. Virou motivo de insegurança. O imóvel está localizado entre dois prédios. Um deles já foi alvo de invasão por pessoas que usam o jardim erguido em frente à casa para usar drogas. Sem manutenção, o mato cresce e deixa o local ainda mais vulnerável.

"Tivemos que instalar uma cerca elétrica para evitar novas invasões. É uma falta de respeito imensa. Não só com a casa que está se acabando, mas com todos da vizinhança. Porque esse abandono traz também doença, gera focos do mosquito Aedes Aegypti. A gente já teve orgulho de dizer que era vizinho da casa de Capiba, mas depois que o imóvel foi para as mãos do Estado está nessa situação", afirma Ana Cristina Lins, síndica de um dos edifícios vizinhos à casa. No mês passado, moradores flagraram o desperdício de água por dias seguidos de um cano localizado nos fundos da casa. O transtorno é tão grande que os vizinhos resolveram fazer um ofício pedindo providências à Secretaria de Administração, que está à frente do processo de tombamento da residência.

No comunicado, os moradores apontam a falta de manutenção, afirmando que no local há presença de ratos, timbus, cobras e outros animais que ultrapassam os limites do terreno e invadem as áreas dos prédios, gerando risco à saúde dos moradores. "Desde que a casa foi desapropriada, estamos enfrentando essa situação. Já pedimos várias providências, inclusive nas vezes em que o imóvel foi alvo de arrombamentos. Nem a limpeza da fachada podemos fazer por se tratar de propriedade do Estado", explica a síndica do outro prédio vizinho, Micheliny Freitas Pessoa.

VIÚVA LAMENTA

Morando em Surubim, a viúva do compositor, Zezita Barbosa, lamentou o estado de abandono em que se encontra o imóvel onde morou durante décadas. "Eles desapropriaram minha casa do dia para a noite. Para que? Para ficar desse jeito? Se acabando a olhos vistos. Agora é só mais uma casa desapropriada e abandonada. Só isso", criticou. Ela cobrou a conclusão do processo de tombamento, etapa fundamental para permitir a recuperação do imóvel.
Foto: Divulgação/Reprodução
"Eu fico revoltada com a falta de cuidado. Uma casa com tanta história. Sempre foi a morada de Capiba, Vão terminar derrubando", disse a viúva.

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