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domingo, 12 de fevereiro de 2023

ChatGPT chega a igrejas, e pastores se perguntam: tem Deus ali?

Pastor Melqui Ferreira, líder da Igreja Avivafé,
 em Surubim
Da FOLHA DE S.PAULO - Anna Virginia Balloussier
charlesnasci@yahoo.com.br

SÃO PAULO - No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus. Até chegarmos agora ao ChatGPT. O mundo começa a se familiarizar agora com a ferramenta virtual que, com por meio da IA (inteligência artificial), constrói textos inteiros sobre praticamente tudo o que você possa imaginar. Basta dar um comando, como pedir a receita de um bolo de fubá ou um ensaio sobre Shakespeare, e o robô lhe devolve a obra pronta
. As pessoas têm testado o chatbot para as mais variadas funções. O pastor Melqui Ferreira não quis ficar de fora. De Surubim (PE), onde lidera a igreja Avivafé, ordenou: "Escreva um texto de 200 palavras sobre a importância de andar com Deus". Seja feita a vossa vontade.

"Ele nos dá a direção, o propósito e a paz que precisamos para enfrentar os desafios e as incertezas do dia a dia", diz um trecho do escrito proposto pelo ChatGPT. Melqui intimou a IA a lhe oferecer uma segunda sugestão, e o novo texto começava assim: "Andar com Deus é uma das mais valiosas jornadas que uma pessoa pode empreender". É este o futuro da pregação cristã? Eis a questão que vem pipocando nas igrejas, na medida em que mais e mais gente ouve falar da cornucópia de possibilidades do ChatGPT.

"Você pode responder: ?Claro que não?. Talvez você simplesmente não acredite que tal coisa possa acontecer", escreveu o teólogo Russell Moore, até onde se sabe sem auxílio do chatbot, no Christianity Today, portal referência do cristianismo americano. "Mas imagine tentar explicar para alguém, 30 anos atrás, o Google ou um app da Bíblia para smartphone. E se a IA pudesse escrever sermões completamente ortodoxos, biblicamente ancorados e convincentemente argumentados para pastores todas as semanas?"

Não é só um exercício de imaginação. Da pernambucana Surubim à Carol Stream, vila americana que sedia o Christianity Today, líderes religiosos estudam como a nova tecnologia pode colaborar para a missão pastoral. Refletem também se falta a uma pregação redigida por máquina aquela faísca divina que eles creem lhes servir de inspiração. O pastor Silas Malafaia deu uma chance ao ChatGPT e não gostou do que viu. "É muito fraco. Até pra iniciante é fraco. A informação é pouca. Não achei nada demais."Ele solicitou palavras sobre o tema da reconciliação sob a ótica teológica e recebeu de volta um texto dizendo que esse tópico "é uma mensagem central da mensagem cristã", mais a recomendação de alguns versículos.

Melqui encontrou algumas falhas na ferramenta. "As minhas experiências não têm sido boas no início." Por exemplo: quis algo sobre as tribos de Israel, e uma das listadas não existe na Bíblia. Acontece muito. Se uma informação errada se reproduz indevidamente na internet, como uma referência equivocada no Wikipedia, o ChatGPT pode reproduzi-la. Mas o pastor acha que a IA tende a evoluir com o passar do tempo, aprendendo com os próprios erros. Até concorda que o chatbot pode ajudar a construir sermões. Mas, "sem a inspiração do Espírito Santo", a mensagem estará carente de profundidade, afirma.

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