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terça-feira, 11 de novembro de 2025

Cientista brasileira cria caneta que detecta câncer em 10 segundos

Tecnologia desenvolvida por Lívia Eberlin promete tornar cirurgias oncológicas mais seguras e personalizadas. Etapas subsequentes querem descobrir se caneta também pode medir resposta dos tumores a tratamentos
Do G1 - Talyta Vespa
charlesnasci@yahoo.com.br

Uma brasileira está por trás de uma das inovações médicas mais promissoras dos últimos anos. A química Lívia Schiavinato Eberlin, professora da Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos, desenvolveu um dispositivo capaz de identificar se um tecido é saudável ou cancerígeno em apenas 10 segundos, já durante a cirurgia. A tecnologia, batizada de MasSpec Pen, já é chamada de "caneta que detecta câncer".

Agora, o Einstein Hospital Israelita, em São Paulo, conduz o primeiro estudo clínico fora dos Estados Unidos com o equipamento, em parceria com a Thermo Fisher Scientific, multinacional responsável pelo espectrômetro de massas que viabiliza a leitura molecular do tecido.

COMO FUNCIONA A TECNOLOGIA

A MasSpec Pen é uma caneta conectada a um espectrômetro de massas
— um equipamento capaz de identificar as moléculas que compõem uma substância e revelar sua "assinatura química". Em termos simples, ele pesa e compara as moléculas do material analisado, mostrando quais estão presentes e em que proporção. É a mesma tecnologia usada em investigações forenses, no controle de qualidade de alimentos e em exames antidoping — agora adaptada para uso médico.

Durante a cirurgia, o médico encosta a ponta da caneta sobre o tecido suspeito. O dispositivo libera uma microgota de água estéril, que permanece em contato com o tecido por alguns segundos. Essa gota extrai moléculas da superfície e é aspirada para o espectrômetro, que analisa sua composição química em tempo real. O aparelho então identifica o padrão molecular do tecido
— algo como uma impressão digital biológica — e mostra na tela se ele é saudável ou cancerígeno. "É como fazer um café: a água extrai as moléculas da amostra sólida, mas não remove o tecido. A análise é instantânea e não causa nenhum dano", explica Lívia Eberlin.

O CONTRASTE COM O PADRÃO ATUAL

Em qualquer cirurgia oncológica, um dos maiores desafios é definir o limite exato do tumor — até onde o cirurgião deve cortar. O objetivo é remover completamente o tecido doente, evitando deixar células cancerígenas para trás, mas sem retirar mais do que o necessário de tecido saudável, o que pode comprometer órgãos e funções do corpo. Esse tecido, em termos simples, é o conjunto de células que forma uma parte do corpo — como um fragmento do pulmão, da tireóide, do fígado ou da mama.

Quando há um tumor, as células cancerígenas se infiltram nesses tecidos e podem invadir áreas vizinhas. Por isso, o médico precisa saber onde termina o câncer e onde começa o tecido saudável — a chamada margem de segurança cirúrgica. Hoje, para responder a essa pergunta durante a cirurgia, os hospitais utilizam o chamado exame de congelação, considerado o padrão-ouro da patologia.

Nesse procedimento, o cirurgião remove um pequeno pedaço do tecido suspeito e o envia para o laboratório, onde o material é congelado, cortado em lâminas finas e analisado ao microscópio. O processo pode levar de 20 minutos a 1h30, tempo em que o paciente permanece anestesiado, "aberto" e a equipe cirúrgica aguarda a resposta do patologista.

Se o exame indicar que ainda há células cancerígenas nas bordas do material retirado, o médico precisa voltar e remover uma área maior, prolongando a operação, o tempo de anestesia e o risco de complicações. "Mesmo patologistas experientes podem ter dificuldade em fornecer uma resposta precisa sobre margem de segurança, porque o congelamento distorce a estrutura do tecido", explica Lívia Eberlin.

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