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sexta-feira, 27 de junho de 2025

Falar de Erika Hilton é mais perigoso do que fazer trilha em vulcão na Indonésia

Da GAZETA DO POVO - Paulo Polzonoff Jr.
charlesnasci@yahoo.com.br

Que desespero. Na condição de... é... ãã... tipo... jornalista, me dá uma agonia danada acompanhar a atuação política da... é... ãã... tipo... deputada Erika Hilton. E não poder falar nada. Na condição de cronista ou articulista ou achista profissional, tanto pior. Não posso criticar. Nem sugerir um caminho alternativo eu posso. Não posso nada. E, no entanto, estão surgindo várias denúncias contra a parlamentar. Denúncias relevantes, informações de interesse público e, portanto, jornalístico. Mas não falo nada. Não falo. Não está mais aqui quem falou.

Para começar, tem esse negócio aí do pronome. Você sabe. Se eu erro o pronome... Imagina! Vai ser um deusnosacuda. "Erro", claro, é modo de dizer. E também um sinal de rendição. Sei disso. Infelizmente sei. O correto seria dizer: "Se eu acerto o pronome...". Ou: se eu uso o pronome de acordo com a lógica própria do nosso querido idioma... Se uso com um mínimo de habilidade essa incrível tecnologia linguística chamada concordância de gênero... Para o senhor, seu motorista, ver a que ponto chegamos. Vou descer aqui.

ERIKA SANTOS SILVA

Aí está. Me sinto praticamente na borda de um vulcão, a um milímetro de escorregar e ser imediatamente consumido pela fumaça tóxica da ideologia de gênero. Daí a me desintegrar totalmente na lava da Lei nº 7.716/1989 é um pulo. Ou um tropeço. Seja como for, é uma tragédia. E, sabe como é, tenho família e tal. Não posso correr certos tipos de riscos na esperança (ilusória) de ser resgatado por uma equipe de defensores da liberdade de expressão e de imprensa.

Erika Hilton, cujo nome de batismo não posso nem citar sem cometer um crime: deadnaming. Aliás, para escrever a frase anterior ousei pesquisar o nome de batismo da deputada (posso usar sic? e se for um soluço?) e me surpreendi. Mas só porque sou desses que ainda se surpreendem. Como dizia, me surpreendi: na Wikipedia não encontrei a informação e o Google foi taxativo: o nome de batismo de Erika Hilton é Erika Santos Silva. Uau.

QUE MUNDO! QUE PAÍS!

Pedindo desde já perdão pelo capacitismo mental incontornável: que loucura! Que doideira! Que mundo insano é este onde um jornalista não pode usar o nome de batismo de uma pessoa, nem recorrer ao pronome... original, muito menos criticar essa pessoa, uma servidora pública, uma representante do povo, paga com o dinheiro dos meus impostos, por supostamente (ah!, o supostamente) usar assessores parlamentares como maquiadores – ou maquiadores como assessores parlamentares, já não sei mais.

Porque qualquer coisa que se diga, qualquer crítica que se faça, por mais respeitosa, bem-intencionada e baseada em fatos que ela seja, ricocheteará no conveniente escudo da transfobia e voltará na forma de intimidação judicial, o famoso "processinho" – por crime inafiançável e imprescritível, ainda por cima! Entende agora por que falar de Erika Hilton é mais perigoso do que fazer trilha em vulcão na Indonésia? Que mundo! Que país! Que época para se viver.