De O PODER - Zé da Flauta
charlesnasci@yahoo.com.br
Tudo começou com uma declaração dita num tom calmo, quase pedagógico, como quem explica o perigo de uma enchente ou de uma epidemia. William Bonner, o apresentador que entra na casa dos brasileiros como se fosse parente de segundo grau, afirmou que as redes sociais são o maior problema da humanidade. Não foi um deslize. Não foi um rompante. Foi cálculo. Cada palavra ali foi pensada, estudada, debatida em reuniões com comunicadores, estrategistas, talvez até togados. E isso, é o que mais assusta. Porque quando o porta-voz do sistema diz que a liberdade é o problema, é sinal de que o sistema decidiu que o povo precisa voltar a ficar calado.
charlesnasci@yahoo.com.br
Tudo começou com uma declaração dita num tom calmo, quase pedagógico, como quem explica o perigo de uma enchente ou de uma epidemia. William Bonner, o apresentador que entra na casa dos brasileiros como se fosse parente de segundo grau, afirmou que as redes sociais são o maior problema da humanidade. Não foi um deslize. Não foi um rompante. Foi cálculo. Cada palavra ali foi pensada, estudada, debatida em reuniões com comunicadores, estrategistas, talvez até togados. E isso, é o que mais assusta. Porque quando o porta-voz do sistema diz que a liberdade é o problema, é sinal de que o sistema decidiu que o povo precisa voltar a ficar calado.
DELETANDO
A censura não chega gritando, ela vem pianinho, com palavras bonitas como "combate à desinformação" ou "proteção das instituições". Mas por trás desse verniz jurídico, se esconde uma engrenagem sorrateira que está reprogramando a sociedade. Quando o STF obriga as plataformas a apagar conteúdos que desagradam o poder, o que está sendo apagado, na verdade, é o direito de pensar diferente. E o povo, entretido com danças, dublagens e polêmicas forjadas, não percebe que está sendo calado sem que ninguém precise levantar a voz.
POR MEDO
O caos não virá na forma de tanques nas ruas, mas de algoritmos obedientes e cidadãos vigiados. A crítica, mesmo educada, poderá ser interpretada como discurso de ódio. A piada, como ameaça institucional. O meme, como crime. As redes sociais deixarão de ser praças públicas para se tornarem condomínios fechados, onde só entra quem aceita o regulamento invisível. Os amigos começarão a se policiar uns aos outros, não por convicção, mas por medo. E o medo, é o cimento das ditaduras modernas.
FRAGILIDADE
As consequências disso não são apenas políticas, são psicológicas e culturais. Professores terão receio de ensinar certos livros. Artistas vão evitar certos temas. Jornalistas vão preferir o silêncio à multa. E o povo, cada vez mais isolado em bolhas, acreditará que o que não aparece nunca existiu. A História, reescrita em tempo real, deixará apenas aquilo que o algoritmo autorizou lembrar. E o passado será tão frágil quanto o próximo clique.
ASSUSTADOR
O cidadão comum, que hoje pensa "isso não me afeta", descobrirá tarde demais que não pode mais reclamar do preço da carne, da violência no bairro ou da fila do hospital. Porque tudo isso poderá ser interpretado como ataque ao governo. E aí, meu amigo, até o desabafo vira crime. O problema não é o que está sendo censurado. O problema é o que vai deixar de ser dito daqui pra frente. E o silêncio, quando programado, é o som mais assustador de todos.