Do JORNAL DO COMMERCIO - Igor Maciel
charlesnasci@yahoo.com.br
A pandemia foi uma tragédia para o mundo, mas passado o cume dos malefícios reforçou a ideia de que toda crise traz, como bagagem, a abertura de oportunidades. Por causa da pandemia houve aceleração tecnológica, ampliação da cultura de dados, transformação digital, fortalecimento da Saúde Pública no Brasil e surgiram novas formas de pensar os gargalos do país.
Numa única olhada pode parecer, por exemplo, que a CPI contra o Governo Raquel Lyra na Assembleia Legislativa é uma tragédia para o grupo que hoje ocupa o Palácio do Campo das Princesas. Mas é também uma grande oportunidade, que pode ser aproveitada ou não, de reforço político num governo que escorrega na estratégia política desde que teve início.
Numa única olhada pode parecer, por exemplo, que a CPI contra o Governo Raquel Lyra na Assembleia Legislativa é uma tragédia para o grupo que hoje ocupa o Palácio do Campo das Princesas. Mas é também uma grande oportunidade, que pode ser aproveitada ou não, de reforço político num governo que escorrega na estratégia política desde que teve início.
GARGALO É POLÍTICO
O Brasil não avançou na transformação digital, na telemedicina e na logística durante a pandemia porque planejou fazer isso, mas porque tinha deficiência nos setores e foi obrigado, por sobrevivência, a tomar uma atitude e mudar seus padrões. O maior gargalo do Governo Raquel é a política. Por estar com muito dinheiro em caixa e ter uma estratégia mais voltada para o municipalismo, quase abandonando as articulações com partidos e suas bancadas, o Palácio tem sofrido uma ampla variedade de contratempos, alguns são espuma artificial e outros são mais sólidos.
A CPI protocolada na Assembleia esta semana, direcionada à publicidade do governo, é um caso curioso: juridicamente é mais espuma, politicamente é um tijolo. Por causa disso, a capenga e mambembe articulação política do governo será obrigada a se fortalecer e atuar de forma mais profissional, com os partidos. Agora é questão de necessidade. Se conseguir, transforma o limão em uma limonada, doce.
RISCO DE REVIRAVOLTA
O problema das CPIs é que quando elas começam ninguém sabe como irão terminar. Vale lembrar: duas décadas atrás, uma CPI foi iniciada por partidos insatisfeitos com os espaços que tinham no primeiro governo Lula (PT). A ideia era investigar práticas não republicanas nos Correios para pressionar os petistas.
A CPI acabou se transformando no escândalo do Mensalão que arrastou quatro partidos para a lama, inclusive os que ajudaram a provocar a CPI original. No caso da CPI estadual que foi protocolada na Alepe esta semana, basta que os deputados governistas proponham, ao invés de limitar, ampliar o escopo das investigações para que alcancem todos os contratos de publicidade das últimas décadas com o governo de Pernambuco.
MOVIMENTO ESTRATÉGICO
E não é algo difícil de acontecer. Quem já despontou como firme integrante dessa linha de atuação foi o deputado Renato Antunes (PL). Menos de 24h após a Comissão ter sido protocolada, o deputado enviou nota à imprensa.
"Se cada denúncia genérica virar CPI, então que venham as comissões para investigar cada contrato dos últimos 20 anos. Só espero que tragam café, porque o circo vai longe", afirmou o deputado Renato Antunes (PL), ao defender que a investigação não se restrinja à atual gestão e que atinja também governos anteriores. É um provável ponto de partida para essa possível virada.
HORA DE NEGOCIAR
Mas a única maneira de essa estratégia ser possível é se o governo estiver disposto a negociar com os partidos e com as lideranças partidárias de uma forma completamente diferente do que foi feito até agora, mantendo bases republicanas imprescindíveis e inegociáveis, mas abrindo o leque de oportunidades para a participação legítima dos grupos políticos com força em Pernambuco.
Isso é algo que tem sido cobrado há quase três anos e o Palácio não quer ou não consegue fazer. Talvez a CPI seja o catalisador necessário para o enfrentamento a esse gargalo. E, se for, que finalmente seja. Porque políticos que não fazem política são um atentado à lógica.